lugar-comum.

caleidoscopicamente existindo.

(é proibido proibir.)

quarta-feira, janeiro 17

amor de comecinho

amor minho
amor verde, verdinho.
não pise na grama, deite
não fale demais, deixe.
amor que te tenho sede
que te quero verde
amor meu, amor minho.
hoje que te quero sempre
que te sinto cedo
mas que te verde, verdinho.
hoje que aumentei as horas
pra ver se demora o dia acabar.
e noite que não quero não
pois não existe refrão pra gente voltar.
livia bluebird, 3:11 PM | 7 comments

sexta-feira, janeiro 12

faróis
livia bluebird, 12:39 AM | 4 comments

segunda-feira, janeiro 1

e olhando para a gaveta de madeira sem tinta, lembrou-se do livro, da gaveta do livro, dos insetos da gaveta, das asas dos insetos e do bater dessas. fosse escrever um, seria sobre o conteúdo de uma gaveta, até esboçou anos atrás, papéis perdidos nos cardenos colegiais, como quase tudo seu. muitas idéias, mas apenas idéias. então, tempo desse houve esse e ela leu. leu como quem prega fotos nas paredes, só para ter certeza de que ainda não se esquecia por completo, para lembrar de ter o que daqui a pouco não mais seria, como se todos os dias aquelas gavetas das páginas amareladas. e eram elas em sua lembrança quando olhando para a sua de tinta quase nada. pensou quão particular uma gaveta é e quão analógica ela pode ser, gostava da palavra, ja havia dado até um poema besta que não ousava mostrar. havia até de estar dentro dela, quem sabe? ela que não. ela que não ousa nem abrir a gaveta. era doente de não sei quantos que. o que para os outros sensações, era pra ela doenças. doente de nostalgia, de cheiro, de música, doente de lembrar, doente de esquecer. doutor medicou, mas riu-se por dentro, ela também era doente de saber o de dentro e o doutor nem imaginava, rindo-se. não confiaria, pois, na receita. e foi assim que ela doente continuou. olhando a madeira velha e sentindo dores. era doente de quando ver, ver demais. era doente de não querer se perder no passado, ninguém entende, claro, dor, no corpo do outro é sensação. no dela doía de secar os olhos e ainda tinha essa doença do olho seco. era doença de se partir em pedaços esquecidos e depois se sentir faltando. data não lhe interessava, ela só queria a si mesma e na gaveta então. era a cura de uma só vez para todas as não sei quantas. de todas as dores cuidava a gaveta que foi aberta uma única vez para nunca mais. a mulher então se curou lá dentro, seus pedaços livres do esquecimento. ela estava completamente em pedaços de lembranças de todos os dias passados, dias livres da inexistência do esquecimento e presos a ela. um único movimento com a mão e iriam perfeitamente ao passado, ou até mais, mais-que-perfeito e outras eras que maior que o passado. aqui fora estava a mulher das razões, das decisões, sem dores, sentires dessa e doutras estâncias. estava dividida e só assim não se sentia perdendo-se. não sentia nada, na verdade. no começo do tratamento era mera consequência, mas do tanto que não mais sentia, a mulher caiu doente de não saber realmente se era. o que nos outros era sensação, repito, na mulher as proporções eram impossíveis, por isso sempre uma nova dor. e olhando para a gaveta de madeira sem tinta, lembrou do livro, da gaveta do livro e abriu, como a personagem. e foram os seus pedaços aparecendo e já caindo no esquecimento e foi a mulher sentindo perdas e se sentindo e sorrindo, estava curada até uma próxima doença. e se olhava com a exatidão de quem mira as fotos nas paredes que um dia pregou, só para ter certeza de que ainda não se esquecera por completo.
livia bluebird, 4:37 PM | 6 comments