lugar-comum.

caleidoscopicamente existindo.

(é proibido proibir.)

terça-feira, julho 18

vamos tomar todas as conversas, colocar as cervejas em dia. acenda um café, beba um cigarro. vamos dançar as músicas, cantar as danças, olhar os toques, tocar o silêncio. aliás, matemos o silêncio, sorria para mim qualquer história, escutarei tateando. este disco me entristece. a ordem dessas notas musicais me faz chorar e eu choro verdades. eu choro verdades nalgum lugar e engulo mentiras por aqui. te escrevi segredos, guardei nossas besteiras. leia para mim algum álbum de fotografia, me abrace a saudade, me beije a nostalgia. quando for a hora, cante as nossas lembranças, lembre as músicas, me mande um dicionário, cuide de nossos animais e não esqueça de fazer sentido para os outros. mas quando eu voltar, saiba, quando eu voltar, animalizaremos nossas lembranças (e vontades), cuidaremos de cantar, mandaremos o dicionário e os outros ao inferno e voltaremos para a nossa falta de sentido. será assim que aconteceu. foi aí então que sorrimos beijos. e eu só queria ficar em paz, mas ficamos mesmo foi na cama. até ontem.

livia bluebird, 6:17 AM | 7 comments

segunda-feira, julho 10

eu te escreveria, sabe? eu te escreveria para falar tudo aquilo que calei e tu tanto precisava. eu precisava dizer. eu te escreveria em qualquer hora do dia, não só nas insones, quando qualquer coisa parece ser conveniente só para o tempo passar logo. eu faria de verdade, eu escreveria para dizer que o dia está amanhecendo, mas que não tô vendo porque acendi a luz. antes eu ouvia atentamente os conselhos alheios, hoje tenho fone aos ouvidos e tenho aprendido muito mais. escreveria para dizer que aquelas tuas músicas que tanto rejeitei são as mesmas que hoje me colocam pra dormir. eu diria como estou cansada de ver o triste onde nem mesmo há. outro dia tive que correr para não perder o ônibus e me dei conta de como eu me sinto idiota correndo. é um ritmo diferente e todos olham. parei no meio do caminho e o ônibus passou. te escreveria para dizer que passei esses últimos vinte anos te procurando, pensando estar perdida entre carros, pessoas ou frases por aí. mas agora te encontrei e eu vejo. estou bem aqui te olhando escrever no teu caderno novo, música aos ouvidos - e sei que adora quando falo assim. o dia já claro, mas tu ainda não se deu conta, a luz está acesa. continue escrevendo, estaremos seguras enquanto isso. te escreveria sem parar, mas não vou. seria chato, seria repetitivo demais e além disso, não gosto de monólogos.
livia bluebird, 8:31 AM | 2 comments

terça-feira, julho 4

me chamaram pra sair e eu fui. não entendi o nome da festa, mas tamanho era o tédio naquele dia que isso era o de menos, fui do mesmo jeito. o lugar era distante, quase saindo da cidade. fomos tarde, disseram que o legal era chegar tarde. não entendi a ligação, mas eu nem me interessei muito, deixei para lá. me deram um comprimido e eu não lembro de ter pedido algum remédio. mas o engraçado foi que todos no carro pareciam estar com dor de cabeça e alguma boa alma havia aspirinas em seu bolso. não sei se exatamente dor de cabeça, mas sei que todos tomaram os comprimidos. eu guardei, talvez mais tarde eu precisasse. chegamos ao local e enfiei logo o pé na lama, era um dia chuvoso e não poderia haver pior lugar para uma festa do que no meio do barro, piçarra, cascalho e todas essas coisas que se encontra no solo afora. logo na entrada havia umas luzes que deixavam minha roupa colorida, achei legal até. ao entrar no local que indicavam ser o local da festa, lembrei-me de minha mãe dizendo "menina, não brinca com fogo que é perigoso", pois que havia milhares dessas pessoas brincando de jogar fogo pra cima, de enfiar fogo na boca, de girar o fogo no ar e derivados. a maioria olhava deslumbrada, eu olhava com medo. seria mais fácil ter perguntado, mas eu percebi sozinha depois de um tempo: eu estava no meio de uma festa infantil, no meio de crianças desobedientes e espalhafatosas. não foi só o fogo, é que tinham alguns chupando pirulito e eles usavam coisas coloridas no cabelo e pelo corpo também, aquelas cores bem bregas. a música insuportável feita por um careca tatuado, aposto que nenhuma criança alí daquela festa estava entendendo o que diabos dizia naquela música. me lembrou a época que eu folheava as revistinhas da turma da mônica sem saber ler. e pensando bem, deixei esse detalhe para lá, pois lembrei da maioria inútil que gosta de música japonesa, mas que nem faz idéia de que bulhufas os japinhas estão falando. mas só não entendi porque não contrataram um palhaço ou um mágico no lugar desse careca sinistro mostrando os dentes pras crianças. mas ok, continuei observando e percebi como as crianças daquela festa eram desobedientes, elas pegavam tampas de garrafa no chão e colocavam na boca só pelo prazer de ficar mastigando. criança tem dessas mesmo, criança tem umas manias sem sentido. foi quando liguei o nome da festa que eu não havia entendido, era algo com x-não-sei-o-que ou xcoisa, coisax, não importa, mas eu entendi. havia de ser aquelas febres de amar e venerar a xuxa e passar a escrever assim com x, afinal, era uma festa infantil e é só as crianças abestalhadas que caem na dela. mas é que ainda não falei no jeito que eles ficavam, eles pulavam sem parar como quem pula numa cama elástica, mas eles, eles pulavam assim no chão o tempo inteiro, alguns brincavam de pega-pega e saiam correndo desembestados pela festa, bem coisa de criança danada mesmo, eu pensei. e nesse pensamento continuei andando agora em busca de uma coca-cola e esperando ansiosamente a hora de voltar para a casa, tomar meu nescau e ler minhas revistinhas em quadrinho. jeito estúpido a dessas crianças de hoje em dia. achei uma pedaço de grama verdinha no meio do lamaçal, sentei e escrevi esse texto mentalmente. mas não havia coca-cola naquela festa infantil.
livia bluebird, 3:50 PM | 3 comments