lugar-comum.

e ontem eu fui me dar conta de que eu ainda acredito na loira do banheiro. eu me lembro como se fosse hoje o dia que meu irmão me contou aquela história horrenda arregalando os olhos e com uma voz de sinistra de suspense. quase morri, só não morri porque eu não precisava ir ao banheiro na hora mesmo. enfim, vivi um inferno por longos tempos, achava que a desgraçada iria sair pelo granito da pia de uma hora pra outra enquanto meu xixi descia pavorosamente. acreditei fervorosamente até um dia desses que eu não podia dar descarga à meia noite senão ela apareceria raivosa por eu ter lhe acordado. com o tempo me acostumei com a idéia de ter um ser feio e violento no meu banheiro, me acostumei com a idéia de ser engolida viva pelo ser, me acostumei com tudo, mas nunca, nunca deixei de acreditar que ela estava alí, escondida entre um azulejo e outro, só esperando a deixa para atacar. ontem não sei porque percebi que é inevitável lembrar disso toda vez que vou ao banheiro de madrugada, de tão corriqueiro eu nem percebia mais. pior, já era normal a sensação de estar acompanhada pela nada mais, nada menos que a loiríssima loira do banheiro, já é parte de mim esse pensamento, ela está aqui e nada me faltará. é meio desesperador pensar que eu vou morrer achando que ela existe, mas fazer o que, né?

só sei de uma coisa, meu irmão, apesar de ter sido muito sujo da parte dele, fez um trabalho bem feito, eu nunca conseguiria essa proeza. o máximo que consegui foi fazer uma menininha se esconder atrás do sofá com medo de uma caretinha que eu fiz e ainda tive a falta de sorte dela ter ido contar pra mãe dela que eu era uma bruxa, fiquei na merda. eu devia ter dito que eu era a loira do banheiro..